O risco das telas para o cérebro de crianças e adolescentes Por CLAYTON BURGATH Postado em 17 de agosto de 2025 0 O uso excessivo de computadores, celulares e outros dispositivos digitais tem causado preocupação entre especialistas da saúde. O neurologista infantil Dr. Marcelo Masrua, autor do livro “Salve Seus Filhos – Como as Telas Estão Lesando o Cérebro de Crianças e Adolescentes e os Sete Passos para Livrá-los do Vício Digital”, alerta para os danos que a exposição prolongada pode provocar no desenvolvimento neurológico e emocional dos mais jovens. Impactos no desenvolvimento cerebral Segundo o médico, os prejuízos começam cedo, especialmente em crianças menores de três anos, com atraso no desenvolvimento da linguagem. Entre os efeitos apontados estão: dificuldade de manter a atenção; prejuízos nas funções executivas, como planejamento e controle de impulsos; desregulação emocional e maior propensão a explosões de raiva; alterações no sono, memória e comportamento social. Estudos já mostram comprometimento de áreas como o córtex pré-frontal (planejamento e tomada de decisões), o sistema límbico (emoções) e o giro temporal superior (linguagem). Tempo recomendado e realidade brasileira A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças até dois anos não tenham contato algum com telas. Entre 2 e 5 anos, no máximo uma hora por dia; de 6 a 10 anos, até duas horas; e dos 11 aos 18 anos, entre duas e três horas diárias. No entanto, uma pesquisa do Electronics Hub (2023) revela que o brasileiro passa, em média, 9 horas e 13 minutos por dia diante das telas — muito acima do recomendado. O perigo do uso passivo Dr. Masrua explica que nem todo uso de telas tem o mesmo impacto. Atividades acadêmicas ou profissionais podem ser menos prejudiciais, enquanto o uso passivo e recreativo, especialmente com vídeos curtos e rápidos, é o mais nocivo. Esse consumo altera a tolerância do cérebro, prejudica a aprendizagem e dificulta a convivência social. “Há crianças que já não conseguem assistir a um vídeo em velocidade normal e ficam mais intolerantes nas interações humanas, o que compromete vínculos sociais e emocionais”, alerta. Redes sociais e saúde mental As redes sociais ampliam os riscos, sobretudo entre adolescentes e meninas, mais suscetíveis a comparações e baixa autoestima. Pesquisas mostram aumento nos casos de depressão, automutilação e até ideação suicida associados ao uso intensivo desses aplicativos. “Esses sistemas foram pensados para gerar dependência”, lembra o neurologista, citando mecanismos como rolagem infinita, notificações e curtidas, desenhados para manter o usuário preso ao dispositivo. Papel dos pais e da escola O especialista reforça que a responsabilidade recai principalmente sobre os pais. “Não basta delegar à escola. Cabe à família limitar, supervisionar e dar exemplo”, afirma. Ele recomenda criar zonas livres de telas, como durante refeições e antes de dormir, além de incentivar brincadeiras ao ar livre e leitura. Também é essencial que os adultos sejam coerentes: “Não adianta cobrar da criança se os pais estão o tempo todo no celular”. O equilíbrio como chave Para Dr. Masrua, o caminho está no uso equilibrado da tecnologia. “Ela deve ser uma ferramenta, não o eixo da vida da criança”, conclui.